quinta-feira, 19 de abril de 2012

A noite mais gay no deserto da Austrália



As luzes diminuem, a abertura começa ser tocada pela a orquestra e o teatro brilha como se tivéssemos cercados por milhares de estrelas. As três divas aparecem suspensas ao som de It’s Raining Men e a euforia da plateia aumenta instantaneamente. Em um momento como esse, como evitar a vontade de levantar e dançar junto com a música? É assim que começa uma das noites mais coloridas e divertidas que alguém poderia ter em um teatro.

O musical Priscilla – Rainha do Deserto conta a história Bernadette, Mizti e Adam, duas drag queens e uma transexual, que a bordo do ônibus Priscilla percorrem através do deserto australiano para fazer um show em Alice Springs. A versão brasileira que é idêntica ao que é apresentado na Broadway, chega com as músicas sem versões em português, salvo alguns trechos, mantendo o original em inglês.  

Apesar de não ter tido oportunidade de assistir pessoalmente a montagem de Londres e nem da Broadway, a não ser através de bootlegs (cof... cof...), comparações são inevitáveis. Menos no caso de Priscilla! Mesmo com a insatisfação de a montagem brasileira ser réplica da Broadway e não com a de Londres, a peça não deixou a desejar em nenhum segundo. O meu nariz torcido com a produção americana foi pelo fato das músicas terem sido alteradas para a cultura dos Estados Unidos, deixando para trás a forma original que o musical foi concebido e também ignorando grandes canções como Venus do Bananarama e Downtown da Petula Clark. A decisão de deixarem a maior parte das músicas em inglês foi interessante e inteligente, já que não seria nada agradável escutar I Will Survive ou It’s Raining Men em português. Mesmo assim, acredito que partes de algumas músicas poderiam ter sido traduzidas, assim como foi feito no início de “Say A Little Prayer”. Ajudaria no entendimento da história para outros que não entendem inglês. Porém, é um pequeno detalhe que não faz tanta diferença.

Leandro Luna - Surpresa da noite,
mostrando toda sua versatilidade.
(Foto: Caio Gallucci/Divulgação)  
Tudo é esteticamente perfeito. Os atores encarnam tão bem os papéis que conseguem nos carregar o público facilmente através da história. Os protagonistas Ruben Gabira, André Torquato e Luciano Andrey estão impecáveis e levam o texto de forma escrachada o que garante uma risada atrás de outra. As divas Simone Guitierriez, Priscilla Borges e Lívia Graciano dão um show a parte, ainda mais quando estão suspensas no palco. Leandro Luna como Miss Segura está hilário e tem o trabalho dobrado, constantemente está no palco e sempre com uma faceta diferente e faz lindamente a versão drag de Tina Tuner no início da peça. Andrezza Massei que já levava a plateia à gargalhada no Mamma Mia! continua fazendo o mesmo em Priscilla no papel da Shirley. Como a própria atriz descreveu: uma palhaçada atrás de outra. Saulo Vasconcelos apesar de aparecer no final do primeiro ato e cantar apenas uma música, é de grande valia para o elenco de peso e impagável vestido de canguru no grand finale. E falando do final, após o magnífico medley, que é uma das partes mais emocionantes onde todo o elenco está reunido no palco. Ainda temos especialmente na produção do Brasil a música Dancin’ Days d’As Frenéticas, cantada por todo elenco. É a cereja no topo do bolo. Nada melhor para finalizar do que o hino da disco music brasileira.

Quem deseja algum dia assistir um espetáculo digno de Broadway, não precisa ir muito longe. Tudo está ali no Teatro Bradesco. Talvez o ponto fraco desse musical seja a duração comparada com musicais longuíssimos mais tradicionais. Mesmo assim, são 2 horas e 15 minutos de pura diversão. 


terça-feira, 10 de abril de 2012

Um Violinista no Telhado – Tradição!



Topol no filme "Um Violinista no Telhado" de 1971

Houve uma época que eu comprava DVDs por compulsão. Na minha estante ia se formando uma pilha enorme de filmes que eu havia comprado e não tinha assistido. Foi nessa época que adquiri o filme do Um Violinista no Telhado (Fiddler on the Roof) apenas pelo fato de ser uma adaptação do musical da Broadway e que na realidade não sabia muito do que se tratava. Lá naquela pilha ficou o filme por mais de dois anos, até que surgiu uma faísca de interesse e realmente fui lá e coloquei para assistir. A história se passa na vila de judeus de Anatevka, onde Tevye e Golda vivem com suas cinco filhas na pobreza e mantendo as tradições judaicas de casamentos arranjados e respeitando o rabino como autoridade. As três horas de filme passaram como se fosse apenas uma hora, e por incrível que pareça eu não pausei o filme em nenhum momento. Quando terminou o filme bateu o arrependimento de não ter assistido logo que comprei o DVD. Até hoje foi um dos filmes que mais me encantou por suas músicas e pelo personagem Tevye, o leiteiro e pai de cinco filhas que segue a risca as tradições judaicas e está sempre conversando com Deus. Havia algo extraordinariamente inteligente naquele leiteiro que me fascinou por todos os momentos que estava na tela.

O musical Fiddler on the Roof abriu na Broadway em 1964 e teve mais de 3200 apresentações. É considerado um clássico e um dos maiores sucessos em teatro musical. Também já contou com inúmeras remontagens na Broadway e em Londres, em 1971 ganhou a versão cinematográfica vencedora de três Oscars. No Brasil, produzido pela dupla Möeller & Botelho, o musical estreou no Rio de Janeiro em 2011 e em 2012 em São Paulo.

A versão brasileira já estava na minha lista de musicais para não deixar de assistir. Primeiro que as produções de Möeller & Botelho são impecáveis e obrigatórias. Segundo que me encantei tanto com o filme que não poderia deixar de ver essa linda história ao vivo. José Mayer, mesmo sendo sua primeira experiência em teatro musical, foi a escolha perfeita para o papel de Tevye, não devendo nada aos atores Topol (filme) e Zero Mostel (Broadway) que são sempre lembrados como as melhores interpretações do personagem. Não vou citar mais nenhum outro nome do elenco para não ser injusto de falar de uns e não de outros, já que todos estavam perfeitamente lindos em seus papéis. A noite no Teatro Alfa foi uma cheia de muitas surpresas. A peça foi tudo o que esperava que fosse e um pouco mais, mesmo faltando a dancinha tradicional na música “If I Were a Rich Man”. No meu caso que conheço o filme melhor do que a peça, eu desconhecia da cena “The Rumor”. A cena é uma das mais engraçadas, mas parece não pertencer ao musical, me senti assistindo algo do Sondheim por alguns minutos.

Resumindo meus sentimentos: musical perfeito para os amantes da Broadway mais tradicional assim como eu. A nossa versão brasileira faz valer a fama do Brasil ser o terceiro maior pólo de teatro musical no mundo. A mensagem de tolerância e a busca de felicidade e harmonia valem nos dias de hoje, o que faz desse musical ser especial. Um pequeno problema, após assistir a peça, provavelmente você irá ficar cantando “Tradição” por uns dois dias.