As luzes diminuem, a
abertura começa ser tocada pela a orquestra e o teatro brilha como se tivéssemos
cercados por milhares de estrelas. As três divas aparecem suspensas ao som de It’s
Raining Men e a euforia da plateia aumenta instantaneamente. Em um momento
como esse, como evitar a vontade de levantar e dançar junto com a música? É
assim que começa uma das noites mais coloridas e divertidas que alguém poderia
ter em um teatro.
O musical Priscilla –
Rainha do Deserto conta a história Bernadette, Mizti e Adam, duas drag queens
e uma transexual, que a bordo do ônibus Priscilla percorrem através do deserto
australiano para fazer um show em Alice Springs. A versão brasileira que é
idêntica ao que é apresentado na Broadway, chega com as músicas sem versões em
português, salvo alguns trechos, mantendo o original em inglês.
Apesar de não ter tido
oportunidade de assistir pessoalmente a montagem de Londres e nem da Broadway,
a não ser através de bootlegs (cof... cof...), comparações são inevitáveis. Menos
no caso de Priscilla! Mesmo com a insatisfação de a montagem brasileira ser
réplica da Broadway e não com a de Londres, a peça não deixou a desejar em
nenhum segundo. O meu nariz torcido com a produção americana foi pelo fato das
músicas terem sido alteradas para a cultura dos Estados Unidos, deixando para
trás a forma original que o musical foi concebido e também ignorando grandes
canções como Venus do Bananarama e Downtown da Petula Clark. A decisão de
deixarem a maior parte das músicas em inglês foi interessante e inteligente, já
que não seria nada agradável escutar I Will Survive ou It’s Raining Men em
português. Mesmo assim, acredito que partes de algumas músicas poderiam ter
sido traduzidas, assim como foi feito no início de “Say A Little Prayer”.
Ajudaria no entendimento da história para outros que não entendem inglês.
Porém, é um pequeno detalhe que não faz tanta diferença.
![]() |
Leandro Luna - Surpresa da noite, mostrando toda sua versatilidade. (Foto: Caio Gallucci/Divulgação) |
Tudo é esteticamente perfeito.
Os atores encarnam tão bem os papéis que conseguem nos carregar o público facilmente
através da história. Os protagonistas Ruben Gabira, André Torquato e Luciano
Andrey estão impecáveis e levam o texto de forma escrachada o que garante uma
risada atrás de outra. As divas Simone Guitierriez, Priscilla Borges e Lívia
Graciano dão um show a parte, ainda mais quando estão suspensas no palco.
Leandro Luna como Miss Segura está hilário e tem o trabalho dobrado, constantemente
está no palco e sempre com uma faceta diferente e faz lindamente a versão drag
de Tina Tuner no início da peça. Andrezza Massei que já levava a plateia à
gargalhada no Mamma Mia! continua fazendo o mesmo em Priscilla no papel da
Shirley. Como a própria atriz descreveu: uma palhaçada atrás de outra. Saulo
Vasconcelos apesar de aparecer no final do primeiro ato e cantar apenas uma
música, é de grande valia para o elenco de peso e impagável vestido de canguru
no grand finale. E falando do final, após o magnífico medley, que é uma das partes
mais emocionantes onde todo o elenco está reunido no palco. Ainda temos
especialmente na produção do Brasil a música Dancin’ Days d’As Frenéticas, cantada
por todo elenco. É a cereja no topo do bolo. Nada melhor para finalizar do que
o hino da disco music brasileira.
Quem deseja algum dia
assistir um espetáculo digno de Broadway, não precisa ir muito longe. Tudo está
ali no Teatro Bradesco. Talvez o ponto fraco desse musical seja a duração comparada
com musicais longuíssimos mais tradicionais. Mesmo assim, são 2 horas e 15
minutos de pura diversão.